O desenho animado O Estranho Mundo de Jack conta a história do Rei do Halloween. Cansado da mesmice, Jack sai atrás de novidades e encontra o Natal, fica encantado e decide se tornar o Rei do Natal.
Jack era um sucesso no papel que exercia! A cada ano o Halloween ficava mais aterrorizante, e como ele mesmo canta: “no que faço eu sou melhor, meu talento não preciso provar”. Que líder não gostaria de ter no time um profissional de alta entrega que trabalha com autonomia e transmite confiança em suas realizações?
Mas este sucesso pode vir acompanhado de frustração e demanda um acompanhamento e compreensão. Muito se fala sobre gap e desenvolvimento para elevar a performance, e pouco sobre acompanhar profissionais de performance é diferenciada. Como lidar com quem passa por uma crise similar ao lamento do Jack? Este profissional pode ser visto como um mimado que reclama de barriga cheia, o líder pode até ficar com antipatia ou fingir que isso não é um problema que mereça sua atenção.
Mas não olhar de frente para esta situação é um grande risco, a crise poderá se tornar uma questão bem mais delicada e causar sérios problemas para a equipe e para a organização. Uma grande vantagem de ouvir este profissional, assim que a crise se manifestar, é ter tempo para preparar uma mudança de atuação, de área ou até mesmo de vínculo sem comprometer os resultados. O líder precisa ter empatia e construir junto com este profissional uma forma dele se sentir mais desafiado enquanto equilibra as entregas necessárias. Mas como?
Bom, um caminho é compartilhar o conhecimento a outros profissionais através de mentoria e capacitação. Desenvolver materiais didáticos, materiais de consulta e até mesmo gravar vídeo-aulas se tornará um novo desafio, afinal uma coisa é saber, outra coisa é ensinar! E o benefício para a equipe e a organização serão enormes!
Outra possibilidade é alocar o profissional em novas atividades que desafiem suas habilidades, com desafios que instiguem de verdade a sua capacidade de solucionar problemas mais complexos e de maior visibilidade. É importante destacar que a mudança de área, de posição ou de complexidade demandará acompanhamento. O excesso de alto confiança pelo sucesso passado pode ofuscará a necessidade de desenvolvimento. Assim como um rótulo de “empregado problemático” o rótulo de “profissional bem-sucedido” também pode ser um problema.
E uma terceira alternativa seria uma migração de CLT para PJ. Prestar consultoria sobre sua área de conhecimento pode ser um caminho interessante para o profissional ter acesso a novidades do mercado que ele não teria acesso se estivesse em dedicação exclusiva como CLT na organização. Ele poderá se tornar um prestador de serviço ainda mais qualificado e quem sabe, com custo reduzido por redução de carga horária.
Voltando ao filme, Jack mudou de papel, ele deixou de ser Rei do Halloween para ser Rei do Natal e a sua motivação foi nas alturas! E a entrega para o cliente (no caso as crianças) também se manteve nas alturas? Super empolgado com o novo desafio de entregar brinquedos para a criançada, Jack mobilizou os monstros para a fabricação dos presentes: patinhos sangrentos e bonecas sem cabeça! Jack saiu do terror, mas o terror não saiu dele. Isso me despertou a analogia com o comportamento das pessoas no processo de Transformação Digital: Jack mudou de festa mas manteve o mindset da festa antiga. Não adianta mudar a ferramenta e não mudar o comportamento: implementar um super sistema e continuar com controles paralelos “por garantia”…. digitalizar uma atividade e imprimir cópias para arquivar com “mais segurança”…
Finalizo este texto com a provocação: para sair do analógico, o analógico tem que sair de você! A expressão já diz: transformação (transformar) implica em mudança de comportamento, não se trata de digitalização, automatização, implementação de ferramentas tecnológicas. Manter o mindset analógico no mundo digital é como presentear uma criança com patinhos sangrentos….